Por Ricardo Régener
Não foi a céu aberto, não teve palco grande, não teve entrada franca, não atrapalhou o trânsito da cidade. Depois de um período de quase 7 anos ininterruptos produzindo CDs que, de tão grandes, traiam mais gente para a sua gravação do que vendiam de cópias, o Diante do Trono entrou no que a qua líder, a Pra. Ana Paula Valadão Bessa, chama de "novo ciclo". Gravado numa grande casa de shows e Recife no mês de julho, a primeira gravação da série em lugar fechado desde "Exaltado", o Décimo Primeiro CD Diante do Trono retoma uma mensagem intimista que marcou alguns CDs do ministério, principalmente "Preciso de Ti" e "Quero me Apaixonar". Quanto à forma, sim, o Diante do Trono permanece fiel às suas origens, à sua identidade e àquilo que o ministério sabe produzir de melhor. Essa fidelidade, porém, não impediu que novidades bem medidas fossem incorporadas: novos músicos e novos arranjadores, vindos do CTMDT, isso fez toda diferença ao dar um hálito fresco a algumas canções como "Pela Manhã".
A capa e o Encarte do CD mais parecem de um CD solo, mas é apenas impressão: Desde DT2 nao se via um CD tão conjunto no Diante do Trono, e isso talvez seja o que mais chama a atenção nesse novo trabalho. Os solos, duetos e trios de backs continuam escassos (nesse CD só houve um solo de André Valadão, como sempre, um trio de mulheres, e um dueto entre Marine e Mariana que acabou cortada do CD). No entanto, o que ouvimos é um som mais equalizado, sem tanto destaque para a voz da Ana Paula, e com a aparição mais acentuada das vozes do back, do conjunto.
"Saudades" é a primeira canção. Uma letra muito simples, fácil de decorar e de cantar em conjunto, e ao mesmo tempo apaixonante, é impossível não ouvir sem suspirar e dizer "Senhor, vem! Você é livre pra operar como quiser, nós temos saudades de Ti". O Refrão lembra muito aqueles corinhos de avivamentos antigos. Essa seria a 10ª canção do CD, é evidente, não faria sentido nenhum se não fosse a canção de abertura.
"Desperta", a segunda canção, é forte! Praticamente uma transcrição literal do texto bíblico de Isaías 51. Canções de celebração costumam ser animadas e geralmente mais superficiais do que canções mais intimistas e sobre temas mais sisudos. "Desperta", no entanto, veio pra demonstrar que é possível sim fazer um som alegre, bem elaborado, celebrativo, e isso sem abrir mão de uma letra profunda, para reflexão e com muito esmero bíblico. O Refrão contagia: "Rompei em Júbilo, a uma exultai, hei! Ruínas de Jerusálem, cantai, pois o Senhor te remiu", e logo após o coro profetiza sobre Recife e sobre o Brasil. A canção empolga.
"Pela Manhã" não empolgou durante o período de pré-produção e gravação. A mixagem e o trabalho final, no entanto, deixaram a canção com outra cara: harmonia entre voz principal e backs, instrumentos mais bem trabalhados fizeram o som "preencher" a música de uma maneira como não aconteceu na gravação ao vivo nem nas etapas anteriores. Foi a que mais evoluiu durante o processo de pós-produção.
"Com Júbilo eu Canto" manteve o nível e o ritmo do CD. Trata-se do solo de André Valadão. Considero ruim as três últimas participações de André Valadão nos CDs do DT ("Faz-nos um", "Tu és o remédio" e "Debaixo dos nossos pés"), por isso mesmo ouvi essa canção com muita cautela. A surpresa foi muito boa, apesar da canção ter oito minutos, o André Valadão não se perdeu em falas e ministrações que pouco têm a ver com o tema da música, a ministração que foi pro CD foi curta, bela e coerente com a mensagem, e só isso já valeu a música. No demais, a letra alegra o coração! Fala sobre cantar com júbilo ao Deus que salva, cura e liberta!
"Confio em teu amor", a quinta faixa, é a canção mais comentada pelo público até agora, e forte candidata a se tornar a mais cantada desse CD. Tem a letra mais apelativa mesmo: fala sobre confiar em Deus mesmo sem vê-lo, mesmo no meio das adversidades mais terríveis, e todas essas outras situações que todo mundo passa. Os maiores destaques pra mim, no entanto, é o back (o mais trabalhado do CD) e o instrumental: a orquestra faz um solo com paradinhas, interage com os metais, bate forte, até um pouco gótico. Ficou poderoso!
Logo em seguida vem "O Teu amor", que marca uma "desacelerada" no CD. Foi a canção que eu mais gostei durante o período de pré-produção, principalmente por causa da letra: fala sobre o fato de Jesus amar a todos, tocar a todos, mesmo aqueles que ninguém quer mais tocar. No entanto, considero que foi a canção que mais beleza perdeu no processo: ela passou a ser cantada em trio com um instrumental sonoro demais para a simplicidade na letra. Quem sabe, poderia ter sido o caso dela ser tocada só no piano e voz, ou mesmo em um dueto. A canção continua bela, mas perdeu muito durante o processo de produção.
"Pelo Teu amor" é uma repetição simples de versos paralelísticos. É uma canção pra ser ouvida ao vivo e com ministração. No CD ficou cansativa e repetitiva, apesar da seqüência de notas do teclado (também repetitiva) ter ficado muito boa!
"A Canção do Amor", a tema, é a próxima, e tem o ritmo lento e contemplativo das duas anteriores que, na verdade, prepararam caminho para ela. É melancólica, repetitiva. Se "Pelo teu amor" era pra ser ouvida ao vivo, "A Canção do amor" é pra ouvir no quarto, orando e refletindo, no demais, a canção ficou um pouco longa e cansativa. A proposta é linda, mas o DT já fez temas mais bem trabalhados.
"Porque te amo" é a canção seguinte, penúltima do CD. Intimista, fala sobre procurar o lugar secreto não por interesses, mas pra curtir a presença de Deus, simplesmente. É lenta como as três anteriores, porém maravilhosa, a verdadeira canção tema do CD: a melodia inspira a ir pro lugar secreto, desperta certo desespero pra curtir a presença de Deus. A canção emenda direto com a faixa "Espontâneo", que na verdade é a segunda parte da música. Dá pra ouvir o barulho das pessoas orando atrás, enqüanto a Ana canta espontaneamente sobre procurar o lugar secreto. O verso "Te amo Senhor" é repetitivo, de fato, mas não cansa em nenhum momento, daqueles que poderiam ser cantados pela eternidade. O clima de entrega é tão intenso, que a equipe do DT até mesmo deixou passar na pós-produção alguns desafinos da Ana Paula… pra dar um ar mais espontâneo e tentar trazer o que foi vivido no dia. É o ponto alto do CD.
"Minha Herança" é a última, um solo de Ana Paula com teclado e violinos, fala que a presença de Deus é deliciosa, melhor do que ouro e bens. A letra, a melodia, o cenário, sugerem algumas daqueles canções que cantamos sozinhos mesmo, antes de dormir. Como se o CD fechasse com o convite para que o ouvinte continue no seu quarto, orando.
"A Canção do Amor" fala sobre procurar a Deus no secreto, fala sobre o avivamento que primeiro começa no coração dos cristãos quando ele sfecham a porta de seus quartos. O Diante do Trono têm mantido um nível elevado nas suas produções, e essa de 2008 é uma excelente surpresa e uma excelente pedida!
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